Agro e Negócios

BNDES planeja criar certificadora de créditos de carbono no Brasil

Por Jacildo Bezerra

  • Anúncio foi feito durante seminário sobre transição energética e sustentabilidade do futuro
  • Mercadante: “bancos públicos têm que ser verdes”
  • Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, destaca parcerias com BNDES para combate às mudanças climáticas e defende uso de moedas locais em financiamentos

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, anunciou nesta quarta-feira, 9, que o Banco está dedicado à construção de uma certificadora de créditos de carbono no Brasil. “Se somos um grande provedor de recursos estratégicos, temos que disputar a certificação”, afirmou. A declaração foi dada no evento “A Transição Energética e a Sustentabilidade do Futuro”, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, com presença da presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, e do embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao.

Na abertura do evento, Mercadante destacou que a instituição conta com dois instrumentos principais para estimular investimentos sustentáveis: o Fundo Clima, com ações voltadas para descarbonização e transição energética, e a TR (taxa referencial), focada em projetos de inovação. “Inovação é risco. Se não tiver a participação do Estado, o processo é inibido”, sustentou o presidente, que criticou a teoria do Estado mínimo e defendeu uma relação mais criativa entre Estado e mercado.

Ele afirmou que o Banco quer alavancar investimentos na área de minerais críticos e estratégicos e destacou que a indústria está em primeiro lugar nos desembolsos do BNDES. Só na Nova Indústria Brasil (NIB), o Banco aprovou financiamentos que somam R$ 220 bilhões até junho deste ano. Para fortalecer essa frente, o BNDES lançou um edital voltado para atração e expansão de centros de pesquisa e desenvolvimento, que já recebeu R$ 57,4 bilhões em propostas.

Entre outras iniciativas do BNDES, Mercadante citou a inauguração do Centro de Cooperação Policial Internacional em Manaus (AM), com financiamento de R$ 36,7 milhões não reembolsáveis do Fundo Amazônia; o apoio de R$ 830 milhões ao Ibama também com recursos do Fundo, para a aquisição de helicópteros, lanchas e sistemas de inteligência; a recuperação de 1,3 milhão de hectares de manguezais, além de ilhas oceânicas. Ele defendeu ainda maiores investimentos em combustíveis sustentáveis para navegação e aviação, processo que o Brasil pode liderar.

Brics – Mercadante avaliou que os Brics são uma “inovação diplomática extraordinária” e representam a “vanguarda do Sul Global”. “Muito do que estamos fazendo se deve à parceria com a China, um parceiro estratégico para nós”, comentou. Mercadante incentivou ainda o fortalecimento do diálogo entre Brasil, Indonésia e Congo para discutir a preservação de florestas tropicais.

Na mesma linha, o embaixador da China avaliou que os dois países possuem alta complementariedade de recursos e de princípios no campo do desenvolvimento sustentável. “China e Brasil são forças construtivas na sustentabilidade global”, avaliou.

Para o presidente do BNDES, os bancos públicos têm um papel decisivo em um cenário de crise do clima e da governança global. “Os bancos públicos precisam ser verdes”, disse. Ele lembrou que essas instituições respondem por 40% do crédito no país e contou que o BNDES está criando um Fórum dos Bancos Públicos no âmbito da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Parceria com NBD – A presidenta do NBD, Dilma Rousseff, destacou a importância dos bancos de desenvolvimento nacionais na oferta de financiamento climático e de iniciativas para redução das desigualdades. Nesse sentido, ela ressaltou a parceria com o BNDES em iniciativas para combate às mudanças climáticas e investimentos em infraestrutura sustentável.

Dilma também voltou a defender o uso de moedas locais nas transações do NBD como estratégia para superar a dificuldade de acesso a financiamento por países emergentes e em desenvolvimento. “Lidar com esse desafio requer uma abordagem multifacetada. Uma das soluções mais promissoras envolve a ampliação do uso das moedas locais, porque gera uma taxa de juros menor e ajuda a mitigar riscos cambiais”, afirmou.

Segundo Dilma, cerca de 25% da carteira do NBD está em moedas locais. Para 2026, a meta é chegar a 30%. Ela também destacou que 40% dos financiamentos da instituição são para projetos exclusivamente sustentáveis.

“O setor privado é importante para gerar eficiência e incentivar inovação, mas é o Estado – em parceria com a sociedade – que cria as condições necessárias para que esses mercados funcionem em benefício do bem comum”, avaliou ela, ao exaltar a experiência chinesa, com inovações focadas em transição energética.

Em um cenário global que envolve problemas geopolíticos e uma guerra comercial, a presidenta do NDB destacou ainda a necessidade de criar uma forma de desenvolvimento que coloque a sustentabilidade ambiental no centro da estratégia econômica. “Para o Sul Global, o desafio é ainda maior”, disse.

Alocação dos investimentos – A diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, chamou a atenção para a necessidade de discutir a arquitetura financeira global e a alocação correta dos investimentos financeiros. “O país só vai escalar novas tecnologias sustentáveis se a gente discutir políticas públicas junto aos bancos públicos”, defendeu.

Em outro painel, a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, detalhou os investimentos do Banco em obras estruturais na cidade de Belém (PA), tanto na área que receberá a COP30 quanto em outros espaços. Segundo ela, com as intervenções, 500 mil pessoas vão deixar de viver em áreas alagadas com recorrência. “Estamos trabalhando para oferecer esse mesmo perfil de investimentos em outras cidades brasileiras”, contou.

Tereza Campello também contou que o BNDES está liderando as iniciativas de captura carbono no Brasil com recursos do Fundo Amazônia. “Queremos que o Brasil seja referência mundial restauro florestal”, disse.

Bolsa de carbono – Em painel sobre o futuro da energia limpa, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, contou que a instituição deu início aos primeiros testes para intermediação financeira de créditos de carbono. Entre os objetivos do Banco, estão a criação de uma certificadora nacional de carbono e de uma bolsa de créditos de carbono.

A executiva destacou que o caminho para um futuro de baixo carbono é “irreversível”, e que o processo de transição verde deve ser “inclusivo”, envolvendo desde as comunidades quilombolas a toda a cadeia do agronegócio brasileiro.

A ex-ministra do Meio Ambiente e conselheira do BNDES Izabella Teixeira criticou a demora para a implementação de políticas climáticas no mundo e cobrou maior atuação dos bancos de fomento. “Os bancos públicos têm que assumir risco. Se não, não haverá financiamento para a transição energética”, analisou.

Também no evento, a ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu elogiou a atuação dos bancos públicos no fomento a diferentes setores da economia. “Se não fosse o BNDES e o BB, por exemplo, o Brasil não seria o segundo maior produtor de etanol do mundo e um grande exportador de papel e celulose”, afirmou.

Fonte: BNDES

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